Nas entrelinhas.


(Epígrafe Nas Entrelinhas)

Poemas são para guardar n'alma 
quando escritos ou ouvidos,
Comentários, por ora e na calma
Poderão ser despedidos. 

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Do significado

Não se iluda tanto Aurélio, 
Põe logo no fim em negrito e sublinhado:
"Verdade do Conhecimento: 
Assim nasceu e morrerá questionado." 

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Veritas

Só o amor é capaz de criar nos outros 
Casais de mil e uma versões 
Sem. cair. na. rotina. 

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Andanças

Mal aventurados são aqueles
Que quando um livro encerram
Não obtém um sentimento reles
D'entre duas vírgulas que revelam.

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Bíblico

Um bom poema é como morrer por um momento
E então renascer para encarar suas próprias cinzas.

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Apocalipse

É entre o beijo e o aceno de mão
Que se encontra o meu fim de mundo.

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Xis invisível

Criando romances imaginários
me livro do fardo de carregar nenhum.

Alguém coloque este fardo
bem aqui em minhas costas?
   mas vem rápido
                                         explosivo
                                                                 intenso
como mergulhar em paixão condensada.

Vem;
vem de repente, de repente vem
quando baixas as mulharas estarem
com tática não planejada.
lance o tiro certeiro - Oh, que perfura!
e deixa entrar a luz do (re)conhecimento

"Que garota bobinha
é essa dentro de mim,
que ama e sonha sem fim?"

Vem;
para eu encaixar - meio torto, é verdade
esse meu ser no teu, aí, despreocupado
mas não é preciso fazer sala
amar inteira é meu simples desejo
sentir menos essa carne-e-funções-vitais,
e menos do menos ainda leve-livre-e-solta.

Vem;
sem rosto nem documento
me despedace e me intitule poeta
não esqueça do fardo cheio de bichos barulhentos
que nunca dormem quando sou eu quem desperta.
eles têm nome, nome do resto dos bichos do mundo,
mas como nomeio algo que ainda não me saiu do fundo?

Então vem.

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Material semântico

Apalpa, respira, vigia
Eu, o sentido.
Vírgulas, versos, estrofes
Eu, o solstício.
Francês, inglês, português
Eu me silencio.

Métrica, tétrica, elétrica
Eu, o improviso.
Rasgão, selarão, separação
Eu, o silábico.
Pontada, cortada, acarinhada
Eu me fabrico.

É de palavras ditas e omitidas
Que vou me construindo.

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Prato do dia

Quem só dos poemas lidos
E das músicas ouvidas
Analisa as óbvias formas
É porque não provou de teus recheios.

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Manual 

Compare isso com aquilo
Leia de lá a acolá
Cruze indivíduos
Chore ao ler o que neles há.
Não desvende todos os mistérios
Sequer analise todos os mitos
Veja tudo que o cerca
Desde o material ao invisível.

Limpe a mente 
Porque cérebro nenhum sabe
Fazer do impossível possível.
Beba de todos os venenos
Pinte o desconhecido
Modele letras em frases
De frases construa seu ritmo.

Invente sonhos que jamais entreveu
Deixe as palavras virem de mansinho
Não pense muito ao escrever
Porque pensar bloqueia o caminho.
Inspiração é algo natural que vem
Como um pássaro que acha teu ninho.

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Imortalidade existe

O fato é que 
Se as esperanças são as últimas que morrem
Eterno será quem acredita.

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Futilidades minhas

Não gosto de extremos
Que me fazem me perder
Sem nunca mais poder me achar.
Gosto dos sentimentos,
epifanias, pensamentos extremos
Que me façam me encontrar.

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Ilimitado

desculpe se sou tão prolixo
é que nem todas as palavras do mundo me bastam

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Auto-anarquismo

 Ao escrever que seja leve e sincero 
Que as palavras se ajeitarão nas linhas
 Chamando umas as outras para dançar.
O resto é só resto das ferramentas  
Conquistadas nas normas do ano escolar. 

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Fantasiando

Não destruam o sabor doce do mistério
Que envolve seus idolos.
A decepção pode ser grande quando se descobre 
Que o que reluzia não era ouro
Mas a carne e um punhado de defeitos omitidos.

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Doer um pouquinho é saudável

Se alguém souber como praticar sangrias espirituais, interiores, 
diretamente diretas em direção ao coração (e o que há nele) 
bem, pode ser chamado.

“Olha só, 
sr. Médico, Enfermeiro, ou nada disso,  
está vendo bem aqui, no meu peito? 
Dor tem, mas não há bem que cure”

Então por que não um pouquinho de mal? 

Sessões suficientes, não insanas. 
Não gosto de violências nem comigo mesma. 
Que a curada e a cura seja eu. 
Sangro-me, meu erro sorve minha dor, 
me livro dele com pedido de perdão
e logo nenhum nem outro existe mais. 

Porque o corpo expele
com o tempo, chacoalhadas, auto-censuras.
Aproveito a deixa que poucas vezes vem 
sem que alguém me sangre um pouco 
e então dou-me a mão e saio por aí 
só comigo mesma.

Porque o que não dói é humano
E o que dói não deixa de ser necessário.