28 de maio de 2010

Best of you


Este é o melhor de você?
Deixar as pessoas te machucarem, falar pelas suas costas? Esquecerem seu nome, desmoronarem seus sonhos, zombarem de suas palavras? Achar bonito o fogo sobre uma floresta, ter relações supérfluas por medo de acabar sozinha, se descuidar e então resolver tudo com um aborto? Morder o seu irmão por um cookie, bater em seus filhos para educar, sofrer por opção ao invés de jogar todas as suas mágoas em cima de quem lhe desferiu palavras doloridas? Deixar de comer não lhe fará uma modelo, dirigir embriagado não te fará o melhor da sala, esticar o seu rosto o máximo possível não fará voltar os seus vinte anos perdidos.

Me diga, qual é o seu melhor? Porque este não é o melhor que você pode fazer.

Os seus dias são repletos de altos e baixos, mas não significa que as situações exigem que a melhor opção é ficar no fundo do poço todos os segundos da sua vida. Aquele aparelho eletrônico não pode ter feito você se enjoar em poucos dias, querendo o outro que saiu semana passada. O dinheiro dos pais não se encontra em qualquer lugar, sabia? Assim como uma árvore fora derrubada, fora morta, para fazer essas folhas que estão virando bolinhas de papel em suas mãos. Acho que você não é assim. Algumas vezes vi o seu melhor e já não consigo esquecê-lo.

Será que esta personalidade dentro de ti é tão ruim que não tens coragem de mostrá-la e sim maquiá-la? Ou será que ela é tão original que temes uma rejeição por parte dos outros? Ficar em casa ou fora dela, ou agradar os outros ao invés de fazer as coisas que gosta é o que você no fundo do coração deseja com fervor. Mas não o faz, porque quer ser o melhor daquela garota popular. Daquele capitão do time de futebol. Mas não quer ser a coisa mais preciosa do mundo.

O seu melhor está dentro de você e o medo sufoca-o. Seu coração se reprime. E todos os seus esforços se concentram em procurar o melhor dos outros para substituir o seu melhor.

Audrey Hepburn disse certa vez que, se queres os cabelos sedosos, deixes que uma criança passe os dedos por eles todos os dias. Se você quer ser magra, divida sua comida com os outros. Para ter lábios atraentes diga coisas bonitas, e para conseguir olhos penetrantes basta ver o lado belo das pessoas. É isso. Tão simples e ainda queremos complicar com dicas advindas de revistas femininas, cremes “milagrosos”, cirurgias arriscadas, enquanto que tudo o que precisamos sempre esteve dentro do meu, do seu corpo. E queria simplesmente sair. 


É um amor que ninguém cultiva, porque acha que, como já o tem, não precisa cuidar. E então o amor-próprio morre diante de outros amores que queremos conquistar, e, com ele, morremos também.

Essa semana aprendi a fechar meus olhos para o mundo e controlar meus sonhos baseados nos outros. Encontrei os meus verdadeiros sonhos, visualizei meu futuro sem fama alguma, mas cheio de gatos a correr pela sala de estar e um grande bordo defronte à janela. Minha vontade em agradar quem não merece e ser melhor que a garota mais inteligente da minha sala evaporou. Não sou ela e não tenho que me importar com quem definitivamente não quer me ver nem pintada de ouro. Peguei meus novos recortes de jornais, meus cadernos de anotações, meus projetos. Arrumei minhas coisas, pendurei os quadros de minha tia, organizei minhas coleções de moedas. Minha agenda voltou a exercer o seu cargo de agenda e decidi ir atrás da minha vontade de falar francês, inglês e a língua do coração – esta, por sua vez, presente em todas as músicas e poemas do mundo.

Espero que você, querido leitor, tenha pelo menos um momento em que encontre o seu melhor escondido no meio destas coisas que te dificultam a enxergar além das pessoas muito diferentes da sua personalidade. Afinal, as obras originais são muito mais valiosas que as cópias.

Obrigada, Foo Fighters. Toda vez que escuto Best of You vejo como às vezes sou tola, sou cega. Ainda bem que encontrei o CD de vocês ontem e escutei-o inteiro mais uma vez.

Beijinhos, Marcela.

6 comentários:

  1. É o tal do amor próprio. A base de todos os amores. Só consegue amar a outro alguém quem ama a si próprio. E esse amor, não nasce por pura vontade. É preciso cultivá-lo e cuidá-lo do mesmo, como fazemos ou sonhamos em fazer com os outros tipos de amores. Seu texto, lembrou-me uma aula de filosofia, em que meu professor, ao falar sobre o ser humano, nos deixou em aberto se até agora, quanto tempo nós realmente tinhamos vivido sendo realmente quem somos. Aliás, adoro minhas aulas de filosofia. Mas enfim, voltando ao texto, acho que a maneira mais fácil de perder-se de si mesmo é querer fazer uma competição - mesmo que a pessoa escolhida para competir não saiba- com outro alguém. Assim, como disse meu professor naquela aula, cada um é único. Cada um tem dentro de si um talento único. Basta ser descoberto e explorado. Cada essência é única. Então, que possamos cultivar nossa essência e cuidarmos de nós mesmos. Sem querermos ser melhor que alguém. Beijos, querida. E desculpe-me a ausência aqui, estive afastada por causa das intensas provas.

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  2. Sem palavras para os seus textos.
    Esse então, é muito bom, é como um tapa na cara da gente.
    "Os seus dias são repletos de altos e baixos, mas não significa que as situações exigem que a melhor opção é ficar no fundo do poço todos os segundos da sua vida."
    Esse texto fez com que eu percebesse alguns de meus erros. Obrigado por ter me proporcionado isso.

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  3. Exatamente. Se tudo é tão simples, por que complicar? Me identifiquei muito com o texto pois, faz poucas semanas, comecei a pensar em quase tudo o que está no seu maravilhoso texto. Afinal, quanto mais tentamos parecer com os outros, mais escondemos o que realmente somos.

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  4. Uau.

    (Sem mais palavras, porque você já disse tudo).

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  5. (vamos ver se consigo agora)
    Achei um dos melhores textos que li nos últimos dias, você escreve com tanta verdade.
    adorei mesmo. (:
    e ainda acho que um dia, pelo menos em um dia, todo mundo consiga ser assim, dar esse melhor escondido.

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Sinestésicos.