24 de maio de 2010

Falsa masculinidade.


Uma coisa que eu odeio é cantada. Todas, sem exceções. Meu repúdio vai desde o “Você vem sempre aqui?” ao “Você é o ovo que faltava na minha marmita”. Francamente, homens, o que vocês acham que vão ganhar com isso? Uma mulher em seus braços é que será a possibilidade mais improvável.


Vamos ao meu desastroso exemplo. Alguns dias atrás eu estava pensando na vida enquanto esperava o momento oportuno para atravessar a rua. Eis que de repente um carro – uma brasília a qual restava apenas o escapamento intacto, o resto fora corroído pela ferrugem – passa ao meu lado (corrigindo: quase passa por cima de mim) e o deficiente mental que se encontrava ao volante começou a cantar uma música de forró romântica que eu não conhecia. Bem alto. Olhando para mim.

Chocada e sem me mexer, eis que passa seguidamente uma moto e o rapaz faz um elogio de forma pouco cavalheiresca a minha pessoa.

• Fato a ser analisado nº 1: NUNCA me fizeram dois elogios seguidos.

• Fato a ser analisado nº 2: Forró é um dos gêneros musicais que eu mais abomino.

• Fato a ser analisado nº 3: Eu estava usando uniforme. A menos que aqueles dois tenham fantasias com colegiais, sinto que minha roupa era adequada até para uma audiência.

• Fato a ser analisado nº 4: Uma brasília enferrujada. Qual ser com um cérebro em funcionamento andaria em um carro destes e ainda COGITA que fará sucesso com as mulheres? Alguém joga uma torta na cara dele, por favor.

Resultado: Temendo levar mais uma cantada de nível ainda mais inferior, resolvi atravessar a rua logo de uma vez, fosse atropelada ou não. Como era um horário movimentado havia praticamente muita gente testemunhando minha vergonha de existir.

Desde a antiguidade, Atenas tratava a mulher como utensílio de troca, enquanto que Esparta achava que deveria passar por duros exercícios para poder gerar filhos naturalmente prontos para a guerra. Séculos depois as mulheres eram obrigadas a se casar novas, em alguns lugares sofriam apedrejadas, estupradas e queimadas. Mas havia ainda as rainhas e as piratas, sinônimo de poder e coragem, que levariam suas vitórias para os anos seguintes. E então, entre XIX e XXI chegou a vez das revoluções notáveis, como a queima de sutiãs, o direito ao voto, as descobertas da ciência e as eleições à presidência. Neste meio de tempo apareceram estrelas que conquistaram corações e revolucionaram épocas, que conservam suas imagens encantadoras desde os dias de hoje. E esses são apenas alguns exemplos, apenas alguns grãozinhos de um castelo que várias gerações femininas conseguiram construir.

Tudo bem, Marcela, mas aonde você quer chegar com toda essa ladainha sobre o feminismo?

O fato é que, será que realmente conquistamos o nosso direito de ser mulher? Não estou questionando isso só por causa dos salários ainda baixos, das garotas afegãs, africanas e mexicanas, das poucas presidentes, da mídia que nos bombardeia com imagens de jovens impecáveis dizendo “Quer ficar radiante para o seu homem? Adquira este creme que te rejuvenescerá 15 anos. Esse vestido que emagrecerá seu corpo. E, de graça, uma amostra do nosso novo perfume original da Patagônia! Imperdível!”.

Não, não é "só" isso. Me refiro às coisas simples do dia-a-dia, como, no caso, o estardalhaço do cara-da-brasília-enferrujada e o da moto. A meu ver, é uma prova de fogo usar roupas mais insinuantes. Sorrir sinceramente. Passar na frente de construções. Ao lado de um bando de moleques desajustados. E por aí vai.

Atualmente, apesar das conquistas, as garotas ainda não têm o respeito da maioria dos homens – e noventa por cento intimamente adora isso, portanto fazem charme. Quem sofre as conseqüências é o restante, o 10% das meninas: aquelas que querem uma conversa sem segundas intenções, andar pela rua serem ser incomodadas por cantadas fajutas, usar um vestido sem ouvir alguém elogiar a grossura de suas pernas, sorrir e não receber dois minutos depois um convite para “uns amassos ali atrás” de um cara que mal conhecem. E, digam o que quiserem, estou neste dez por cento.

Hoje os homens se sentem muitas vezes ameaçados por causa da presença feminina, dos poderes que conquistamos. Então acabam por querer “provar” a sua masculinidade gritando no meio de uma avenida o quanto gostariam de que certa mulher estivesse na sua casa. Francamente, quanta masculinidade falsa. Antigamente ainda havia o cavalheirismo, o jeito de ser masculino e encantador. Devo salientar que não estou falando dos rapazes que empurram cadeiras, abrem a porta do carro para você passar, lêem literatura portuguesa.
Fico me perguntando como é o tipo de garota que adora esse tipo de comportamento – certamente, aquelas que usam quilos de maquiagem, saias menores que um cinto, blusas transparentes para também querer chamar a atenção. Essas pedem para serem paqueradas descaradamente, portanto que sejam. Mas o que eu acho injusto é os seres do sexo masculino não usarem os seus neurônios para perceberem que eu e mais várias garotas não somos assim. Há uma diferença.

Gostamos de ¹conhecer, ²fazer amizade e, quem sabe, ³ter algum tipo de relacionamento depois.

Garotos, leram atentamente? Viram que ali não consta nada sobre cantadas de pedreiro? Certo. Se algum engraçadinho vier mais uma vez com uma dessas animosidades para cima de mim, receberá de volta não um beijo e sim um gesto grosseiro e uma mensagem:


Vamos falar de coisas boas? A Marina me deu um abraço pelo meu aniversário e eu venho compartilhá-lo com vocês – abraço grupal anima qualquer humor:


Ela tem um blog encantador, visitem, visitem! {http://youneedsomecookies.blogspot.com/}

E quem gosta de cookies? Também ganhei essas gostosuras desta garota adorável. Com um copo de leite ficam divinos (mas estes vão ficar apenas para mim, haha!).

OBS¹: Vou responder aos comentários do post anterior - na caixa de comentários - mesmo ainda hoje, sim? Obrigada novamente. :)
OBS²: Fonte da porcentagem sobre garotas que adoram cantadas de pedreiro por: Marcela Company LTDA, rs.
OBS³: Estou chorando rios porque não posso ir ao show do Aerosmith. Alguém me entenderia?

Beijinhos, Marcela.

5 comentários:

  1. Eu te entendo, perder o show do Aerosmith é desesperador, nem está doendo muito em mim, até porque moro longe, mas imagino o que é perder o show da banda que gosta haha, eu odeio cantadas fajutas. Gosto de coisas não convencionais, conversas tranquilas, e eu nunca, nunca ' daria uns amassos ali' com um cara que mal conheço. E ah, já recebeu pedidos de namoro de garotos que mal conhece ? Eu já, eles mal sabem do que estão falando, com quem estão falando.. enfim, cerebros de minhoca.

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  2. Uma vez, enquanto eu andava na rua, passou um vento. E eu estava de vestido. E um ACÉFALO completo que estva passando de carro diz: "Olha o vento, hein?"

    Uma coisa que me IRRITA é que não se pode andar bem vestida. Se você anda com uma roupa legal, e maquiagem OK, todo mundo diz: E aí, quer arrumar namorado?

    Olha, não quero. Eu me arrumo pra mim, e não para os outros. Era essa a ideia que Chanel defendia, e por isso amo ela.

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  3. Gostei do post, é a pura verdade o que você disse. Muitos homens ainda tratam mulheres como instrumentos se esquecendo que foram elas que lhe deram a vida. Mas enfim, quando eu tiver filhos quero que ele saibam muito bem respeitar as mulheres.

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  4. ameei o post.
    é bom pensar que ainda existe esses 10% :DD
    e sim eu te compreendo, também estou morrendo por dentro por não poder ir ao show :((

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  5. Também me pergunto o que tem na cabeça desses 90%.
    E esses dias, vesti minha roupa favorita,(que devo ressaltar não tem nada demais) e um grupo de garotos passou e fizeram o mesmo que o cara-da-brasília-enferrujada. Minha vontade foi de insultá-los em voz alta. Mas me controlei.

    Com toda certeza, um abraço grupal é sempre bom. ;]

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Sinestésicos.